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Quando as notas e a medicina se cruzam.

Atualizado: 30 de mai. de 2020

Em um domingo de maio fomos surpreendidos com um pedido, através do whatsapp, recém disponibilizado por esta serventia para atender clientes remotamente, de um senhor do Recife buscando por informações do Dr. Abelardo Condurú, para concluir um trabalho de pesquisa que estava realizando, sendo assim, o titular desta serventia, Dr. Reginaldo Cunha, passou um pouco da história que sabia a respeito do primeiro titular do Cartório Condurú ao Dr. Luiz Barreto, autor da obra, que passamos a reproduzir abaixo.


 

Embaixada Acadêmica “Abelardo Condurú” [1]

Luiz Barreto[2]

Este é um capítulo à parte na história da Sociedade Acadêmica de Medicina, instituição científica e cultural criada em 1933 pelos estudantes de Medicina da Faculdade de Medicina do Recife, a passagem pelo Recife, 21 de julho de 1938, da “Embaixada Acadêmica ‘Abelardo Condurú’”.

Aqui, não se entenda “embaixada”, substantivo feminino, como uma representação de um país no território de outra nação, por meio de um embaixador. Não, esta era uma designação, costumeira e elegante, usada comumente pelos estudantes, principalmente de nível superior, quando necessitava criar uma comissão ou grupo de estudantes, para negociar com dirigentes superiores, em defesa dos seus direitos e/ou solicitando benefícios para suas instituições de estudos.

Este é o caso da embaixada dos acadêmicos da Faculdade de Medicina do Pará, que estando a sua escola, no Norte do país, com grandes dificuldades financeiras e não tendo sido possível resolver localmente a situação, formaram “um grupo de alunos” “uma embaixada” para ir ao Rio de Janeiro, que naquele tempo era a Capital Federal do país, para solicitar ajuda junto aos órgãos competentes do governo federal.

Assim, partiram da sua cidade, Belém, no estado do Pará e de navio chegaram a capital federal, o Rio de Janeiro, onde tiveram entrevistas, principalmente nos Ministérios da Justiça e da Educação e até conseguiram que a filha do presidente Getúlio Vargas, Ivete Vargas, ficasse tocada por sua causa, se comprometendo em ajudá-los nessa missão. Se foram posteriormente aquinhoados com verbas do governo federal, não se tem notícias, mas pelo andar da carruagem, esse assunto foi resolvido, pois ainda hoje a Faculdade de Medicina do Pará, que foi fundada antes da do Recife, gloriosamente continua em pleno funcionamento.

O certo é que, a “Embaixada Acadêmica ‘Abelardo Conduru’”, chegou ao Recife, regressando do Rio de Janeiro, em 21 de julho de 1938, a bordo do paquete Itahité.

Os estudantes de medicina daqui, por intermédio da Sociedade Acadêmica de Medicina, estando bem informados da passagem dos seus colegas pelo Recife, logo se articularam para bem recebê-los. Fizeram tanto, que eles foram recepcionados pelo prefeito do Recife Novaes Filho, pelo professor Oscar Coutinho, diretor da Faculdade de Medicina do Recife e pelos diretores da Sociedade Acadêmica de Medicina e pelo Diretório Acadêmico.

Visitaram os hospitais Pedro II, Centenário, Português, Santo Amaro, Oswaldo Cruz e a Maternidade –e como naquele tempo só existia uma, a do Derby, foi ela a visitada-, além de vários outros pontos do Recife.

Com que recursos, não pude aquilatar, no entanto, a Sociedade Acadêmica de Medicina ofereceu um lauto almoço aos seus colegas paraenses, em número de cinco, e que não tinha ainda nominados: Epílogo Campos, presidente da embaixada, Atamaipa Fernandes, Joaquim Araújo Filho, Ocyr Dutra e Carlos Guimarães Pereira.

O almoço foi oferecido no Grande Hotel, que era o melhor do Recife, e compareceram ainda o acadêmico Dário Campello de Souza, representando o prefeito da capital, o senhor João Carvalho, chefe do gabinete da prefeitura, acadêmico Amaury Coutinho, representante do professor Oscar Coutinho, e os acadêmicos da Sociedade, Carlos Aranha Moura, presidente, Feliciano Jorge de Araújo, diretor de biblioteca, Euclides Leite, 1º secretário, Newton Pimentel, tesoureiro e o sócio Joaquim Cavalcanti. A embaixada foi saudada pelo acadêmico Lauro Gama, orador da Sociedade e agradecendo falou o doutorando Epílogo Campos, presidente da embaixada “Abelardo Condurú”. Finalizando, falou o presidente da Sociedade acadêmico Carlos Aranha de Moura.

À tarde, o salão nobre da Faculdade de Medicina encheu-se de festa e alegria, pois a embaixada, depois do almoço, foi ali recebida em uma sessão especial, presidida pelo acadêmico Carlos Aranha Moura. Havendo uma apresentação da Faculdade de Medicina do Recife e da Sociedade Acadêmica de Medicina. Por outro lado, foram apresentados formalmente os objetivos da viagem ao Rio de Janeiro por parte dos estudantes da Faculdade de Medicina do Pará.

Coube a direção da direção da Faculdade, às 17 horas, oferecer um elegante chá íntimo na “Casa Pernambucana” aos participantes da Embaixada Acadêmica Abelardo Conduru.

Assim, cumpria também a embaixada, o seu outro importante objetivo, criar uma maior aproximação entre os colegas de outros Estados.

Os acadêmicos paraenses mostraram-se muito gratos pela carinhosa recepção recebida no Recife. E expressaram esse reconhecimento aos colegas do Recife, ao prefeito da capital e ao diretor da Faculdade de Medicina do Recife, com palavres de gratidão e de reconhecimento. Foi um salutar encontro que só a saudável juventude estudantil pode proporcionar.

Recife, 24 de maio de 2020

Dia Nacional do Café

Observações

1 - Conduru é uma árvore nativa das Guianas e do Brasil. Espécie frutífera muito alta (chega a 20 metros de altura). O tronco, bastante forte, é historicamente empregado na navegação, de forma a sustentar mastros de navios. A madeira é usada ainda na construção de instrumentos musicais e pisos de casas antigas.

No Pará funciona um serviço “Cartório Condurú” – 4º Ofício de Notas, que tem matriz em Belém e uma sucursal em Souza, Belém/Pará.

No Recife existe também uma artéria, Rua Conduru, no bairro Alto do Mandu.

2 – Como era muito evidente o nome da embaixada “Abelardo Conduru”, fui a internet e verifiquei que havia na cidade de Belém um Cartório com esse nome. Solicitei por WhatsApp para me fornecer informação sobre essa pessoa, que provavelmente teria alguma ligação com esses jovens viageiros, que foram até ao Rio de Janeiro. Para minha surpresa, de imediato, mesmo sendo um domingo, recebi uma boa notícia de que minha solicitação seria atendida.

Assim, muito estou agradecido pela presteza e gentileza do Sr. Reginaldo Pinheiro da Cunha, e quero expressar minha alegria ao constatar que a vontade de servir e a cordialidade derramadas por aqueles jovens estudantes de medicina, naquela época, estão ainda hoje impregnadas na alma e no coração desse povo brasileiro.

Abaixo transcrevo a biografia do Senador Abelardo Conduru, que me foi gentilmente enviada pelo Sr. Reginaldo Pinheiro da Cunha.

Biografia do Senador Abelardo Conduru

Abelardo Leão Conduru era o seu nome completo, filho de Filipe Oliveira Conduru e Francisca Belina Leão Conduru. Nasceu nesta cidade de Belém, em 17 de fevereiro de 1889 e faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de 1977. Foi casado com Dona Celecina Carneiro Conduru.

Era formado em Direito, acreditamos até que tenha sido pela Faculdade de Direito de Pernambuco, uma vez que nessa época inexistia esse curso em Belém. Também foi jornalista e político.

Por duas vezes ocupou a Prefeitura de Belém nos períodos de 11/03/32 a 05/09/33 e 29/01/36 a 25/01/43. Anteriormente havia sido eleito deputado estadual pelo Pará nos períodos de 1923 a 1926 e 1930. Também foi senador pelo Estado do Pará de maio de 1935 a novembro de 1937. Sua relação com o Cartório Conduru, começou quando assumiu o Cartório Correa de Miranda, 4º Ofício de Notas, substituindo o antigo titular, João Evangelista Correa de Miranda.

Muito conhecido por sua carreira política, trocou o antigo nome do cartório por Tabelionato Conduru, nome que se conserva até hoje. Foi substituído por Hermano Pinheiro, e este pelo atual tabelião Reginaldo Pinheiro da Cunha.

Cremos que a Embaixada Acadêmica tenha conseguido o seu patrocínio, quando o Dr. Abelardo era Senador da República e o Senado era no Rio de Janeiro, então Capital Federal.

[1] Notícia veiculada pelo jornal Diário de Pernambuco, sexta-feira, 22 de julho de 1938 p. 12. [2] Médico e membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e da Academia Pernambucana de Medicina.

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